No dia 20 de novembro, o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, uma data dedicada à reflexão sobre o papel da população negra na construção do país e à luta contra o racismo. No entanto, apesar da importância histórica e cultural dos afrodescendentes, o Brasil ainda enfrenta desafios profundos na valorização de sua herança africana e no combate às desigualdades que persistem desde os tempos coloniais.
O legado africano e o apagamento histórico
O Brasil foi o maior destino do tráfico transatlântico de pessoas escravizadas, recebendo cerca de 4,8 milhões de africanos ao longo de mais de 300 anos. Essa migração forçada moldou a cultura, a culinária, a música e as tradições brasileiras. Do samba ao candomblé, da feijoada às festas populares, a influência afro-brasileira é inegável. No entanto, o reconhecimento desse legado frequentemente é negligenciado. As narrativas históricas predominantes ainda colocam os negros em posições subalternas, invisibilizando suas contribuições como protagonistas da construção do país. A abolição da escravatura, em 1888, foi seguida de políticas de exclusão que negaram à população negra acesso à educação, terra e trabalho digno, perpetuando um ciclo de desigualdades que persiste até hoje.
A desigualdade racial atual
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que a população negra (pretos e pardos) representa 56% dos brasileiros, mas está desproporcionalmente representada nos índices de pobreza e violência. Segundo o Atlas da Violência 2023, jovens negros têm quase três vezes mais chances de serem vítimas de homicídio em comparação com jovens brancos. Além disso, no mercado de trabalho, a diferença salarial entre brancos e negros permanece gritante, mesmo quando possuem níveis de escolaridade semelhantes. Apenas 5% das pessoas negras ocupam cargos de liderança em grandes empresas no Brasil, de acordo com estudos recentes.
A importância da Consciência Negra
A criação do Dia da Consciência Negra é uma tentativa de reverter esse apagamento e relembrar a luta por igualdade. A data é celebrada no aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo do Brasil colonial, que simboliza a resistência negra contra a opressão.
Essa reflexão vai além das comemorações: é um chamado para a sociedade brasileira encarar seu racismo estrutural e reconhecer que a desigualdade racial não é apenas uma herança do passado, mas um problema urgente do presente.
O esquecimento e o caminho para o futuro
Embora seja essencial celebrar as conquistas da cultura afro-brasileira, o Brasil ainda falha em transformar essa celebração em ações concretas. É necessário avançar em políticas públicas de inclusão, como cotas raciais, ampliação do acesso à educação e à saúde, além de iniciativas que promovam a representatividade em todos os âmbitos da sociedade. Relembrar nossa afrodescendência é lembrar que o Brasil não seria o que é sem o povo negro. Reconhecer essa realidade é o primeiro passo para construir um futuro mais justo e igualitário. O país precisa deixar de apenas "comemorar" e começar a mudar.
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