Os moradores de diversos bairros de Curitiba têm manifestado crescente insatisfação com a presença dos trens que circulam em áreas urbanas da cidade. Com rotas que atravessam bairros populosos como Boqueirão, Cajuru e Hauer, os trens, além de interromper o tráfego em importantes vias da cidade, causam transtornos que vão desde ruídos excessivos até problemas de segurança e congestionamentos. Nos últimos meses, as queixas se intensificaram, levando à mobilização de associações de moradores que exigem soluções da prefeitura e da concessionária responsável pelas ferrovias.
Principais Reclamações
Entre os principais motivos de descontentamento, destacam-se:
- Trânsito interrompido: Um dos maiores problemas enfrentados pelos moradores é a interrupção do trânsito em várias vias importantes da cidade devido à passagem dos trens. Em alguns casos, o tráfego é interrompido por até 15 minutos, principalmente em cruzamentos movimentados, como nas avenidas Marechal Floriano Peixoto e Francisco H. dos Santos. Com o crescimento populacional e o aumento do número de veículos nas ruas, essa situação gera grandes congestionamentos e atrasa a rotina de quem precisa se deslocar pela cidade.
- Poluição sonora: Outra grande queixa dos moradores é o barulho provocado pelos trens, que operam tanto durante o dia quanto à noite. O ruído das locomotivas e o apito constante dos trens para sinalizar sua aproximação em cruzamentos com vias urbanas têm causado desconforto, especialmente em áreas residenciais próximas aos trilhos. "É impossível dormir com o barulho dos trens passando de madrugada", afirma Luciana Mendes, moradora do bairro Cajuru.
- Risco de acidentes: A segurança também é uma preocupação frequente. Há relatos de acidentes envolvendo pedestres e veículos que tentam atravessar os trilhos antes que as cancelas sejam completamente fechadas. Recentemente, um incidente envolvendo um carro e um trem no bairro Boqueirão reacendeu o debate sobre a necessidade de melhorias na sinalização e na segurança dos cruzamentos ferroviários.
- Impacto na qualidade de vida: Muitos moradores argumentam que a presença constante dos trens nas áreas urbanas impacta negativamente sua qualidade de vida. O barulho excessivo, a poluição gerada pelas locomotivas a diesel e o tempo perdido em engarrafamentos causam estresse e frustração na comunidade local.
Mobilização dos Moradores
Em resposta aos crescentes problemas, associações de moradores de diversos bairros afetados têm se organizado para reivindicar mudanças. Recentemente, representantes de comunidades dos bairros Cajuru e Boqueirão entregaram uma carta de reivindicações à prefeitura e à concessionária Rumo, responsável pela operação dos trens em Curitiba. Entre as exigências estão a construção de viadutos ou passagens subterrâneas para veículos, a implantação de barreiras acústicas em áreas residenciais e uma revisão nos horários de circulação dos trens, para evitar a passagem em horários de pico.
"Não somos contra o transporte ferroviário, sabemos da importância dele para o setor de cargas. Mas é preciso encontrar uma solução para que os moradores não sejam prejudicados no seu dia a dia", diz João Pedro Almeida, líder de uma associação de moradores do bairro Hauer.
Resposta das Autoridades
Em nota, a concessionária Rumo informou que segue todas as normas de segurança exigidas para a operação ferroviária nas áreas urbanas e que está aberta ao diálogo com as autoridades e com a comunidade para discutir melhorias. A empresa também destacou que o transporte ferroviário é fundamental para o escoamento de cargas no país, e que a malha ferroviária que passa por Curitiba é estratégica para a economia regional.
A prefeitura de Curitiba, por sua vez, reconheceu os transtornos causados pela passagem dos trens nas vias urbanas e afirmou que está em conversações com a concessionária para estudar possíveis alternativas. Entre as soluções estudadas estão a construção de mais passagens de nível elevadas ou subterrâneas, como forma de reduzir o impacto no trânsito, e a melhoria da sinalização nos cruzamentos.
Possíveis Soluções
Especialistas em transporte urbano sugerem que, além de medidas imediatas, como a melhoria da sinalização e a construção de viadutos, é preciso pensar em soluções a longo prazo. Uma das alternativas seria a construção de um contorno ferroviário, que desviaria as linhas férreas para fora do perímetro urbano, evitando a passagem dos trens por bairros populosos.
Além disso, a modernização das locomotivas e vagões, com a substituição de trens movidos a diesel por modelos elétricos, poderia reduzir significativamente o nível de poluição sonora e atmosférica. Outro ponto é a possibilidade de restringir a circulação dos trens nos horários de pico, minimizando os impactos no trânsito.
Expectativas da Comunidade
Enquanto aguardam por soluções, os moradores dos bairros de Curitiba continuam sofrendo com os transtornos causados pelos trens. As expectativas são altas para que as autoridades municipais e a concessionária tomem medidas concretas que melhorem a convivência entre o transporte ferroviário e a população. "A cidade está crescendo, e precisamos de infraestrutura que acompanhe esse desenvolvimento. A convivência entre os trens e os moradores precisa ser revista", conclui Marcos de Oliveira, residente do bairro Boqueirão.
A mobilização popular e o diálogo entre as partes envolvidas são essenciais para que Curitiba encontre uma solução que preserve a funcionalidade do transporte ferroviário sem comprometer a qualidade de vida de seus habitantes.
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