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Quinta-feira, 10 de Julho de 2025

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Autismo: um outro jeito de sentir o mundo

Mais de 2 milhões de brasileiros estão dentro do espectro autista. Entenda os sinais, os desafios e as possibilidades de uma convivência baseada no respeito e na inclusão.

Autismo: um outro jeito de sentir o mundo
CSN - Foto: central Sul de Notícias -Direito Autoral
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CSN - Central Sul de Notícias - Reportagem Especial - jornalista Douglas de Souza

Da Redação

Em um mundo cada vez mais barulhento, apressado e cheio de padrões rígidos sobre o que é "normal", as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nos desafiam — e ao mesmo tempo nos ensinam — a enxergar a realidade sob novas lentes. Longe de serem “presas em si mesmas”, como o estereótipo antigo sugere, pessoas autistas sentem, pensam e se expressam de formas muitas vezes extraordinárias, ainda que diferentes das nossas expectativas habituais.

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Compreender o autismo é desatar os nós do preconceito. É sair da lógicae de “consertar” o outro para entrar na ética de caminhar junto. É admitir que talvez, ao lado de uma pessoa autista, sejamos nós que estamos aprendendo a sermos mais humanos.  No Brasil, estima-se que mais de 2 milhões de pessoas estejam dentro do espectro — mas o preconceito e a desinformação ainda são obstáculos diários para muitos autistas e suas famílias.

O autismo é uma condição neurológica de origem genética e ainda sem causas totalmente compreendidas. Não é uma doença, tampouco uma sentença de limitação. Trata-se de uma configuração distinta do cérebro, que afeta a comunicação, a forma de interagir socialmente, os comportamentos e as respostas sensoriais do indivíduo. Mas, acima de tudo, é uma maneira diferente — não errada — de existir no mundo.

Desde a infância, sinais podem surgir. Alguns bebês não estabelecem contato visual, demoram a falar ou mostram pouco interesse em brincadeiras compartilhadas. Outros, ao contrário, desenvolvem uma linguagem precoce, mas não conseguem interagir com os colegas. Há crianças que choram diante de um som aparentemente inofensivo, como um liquidificador, ou se apegam com insistência a rotinas e objetos. Nenhum desses sinais isoladamente define o autismo — mas quando em conjunto, podem levar a uma investigação diagnóstica.

Na adolescência, o desafio se intensifica. A busca por pertencimento em um mundo socialmente complexo pode ser cruel para quem tem dificuldades de interpretar gestos, sutilezas ou convenções sociais. Muitos jovens autistas, sobretudo os que receberam diagnóstico tardiamente, carregam o peso de anos de exclusão, bullying ou autodepreciação. É neste ponto que a empatia torna-se ferramenta vital: precisamos parar de julgar comportamentos e começar a escutar silêncios.

Na vida adulta, o autismo não desaparece. Adultos autistas enfrentam barreiras invisíveis em entrevistas de emprego, relações afetivas e até na busca por um diagnóstico — que, por muito tempo, foi centrado apenas nas crianças. Muitos desenvolvem estratégias de "camuflagem social", escondendo seus traços para se encaixar, o que leva a altos índices de exaustão, ansiedade e depressão. O reconhecimento, nesses casos, é libertador.

O tratamento para o autismo não busca apagar quem a pessoa é, mas sim oferecer caminhos para que ela se desenvolva com autonomia e qualidade de vida. Terapias de apoio — como psicoterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e pedagogia especializada — podem ajudar a construir habilidades de comunicação, autocuidado e convivência. Em alguns casos, medicações são utilizadas para controlar sintomas associados, como insônia ou hiperatividade, sempre sob prescrição médica.

No entanto, nenhum acompanhamento técnico substitui o acolhimento afetivo. O que uma criança autista mais precisa é de um ambiente onde possa ser compreendida sem julgamentos. O que um jovem no espectro mais deseja é ser aceito como ele é, sem a obrigação de parecer neurotípico. O que um adulto autista mais busca é viver com dignidade, com oportunidades reais de trabalho, amor e expressão.

A convivência com pessoas autistas, longe de ser um fardo, é uma chance de expansão humana. Elas nos convidam a desacelerar, escutar com outros sentidos, aceitar a diversidade não como exceção, mas como parte da condição humana. Não se trata apenas de inclusão — trata-se de justiça.

Um panorama atual do TEA no Brasil

De acordo com o Ministério da Saúde, 1 a cada 36 crianças está no espectro autista — um número que tem aumentado com o avanço das técnicas de diagnóstico e maior conscientização. Embora o autismo não tenha cura, ele também não é uma doença. Trata-se de uma diferença neurológica, com graus variados de suporte e adaptação.

No entanto, a realidade brasileira ainda impõe desafios. Dados do IBGE indicam que mais de 70% dos autistas estão fora do mercado de trabalho formal. Além disso, muitos adultos só recebem diagnóstico na vida adulta, após anos de angústia e exclusão social.

 Os sinais e as nuances do espectro

O autismo pode se manifestar desde os primeiros anos de vida, mas os sinais variam muito de pessoa para pessoa. Entre os indícios mais comuns estão:

  • Dificuldades na comunicação verbal e não verbal

  • Reações intensas a estímulos sensoriais

  • Comportamentos repetitivos e apego a rotinas

  • Interesses restritos e foco intenso em temas específicos

“Aos dois anos, meu filho só queria brincar com rodas. Ele não respondia quando o chamávamos pelo nome. Achávamos que fosse surdez. Foi aí que veio o diagnóstico de TEA”, conta Tânia Silva, mãe de Bernardo, hoje com 7 anos, de São Paulo (SP).

 Crianças, jovens e adultos autistas: três faces da mesma condição

Na infância, o acolhimento é fundamental. A escola, a família e os profissionais de saúde precisam oferecer um ambiente seguro, estruturado e previsível.

Na adolescência, a questão se torna mais complexa. A busca por pertencimento, os desafios sociais e a pressão por “normalidade” aumentam. Muitos jovens enfrentam bullying e isolamento. A psicóloga Dra. Fernanda Menezes, especializada em neurodiversidade, alerta: “O sofrimento de um jovem autista camuflado, que tenta o tempo todo se adaptar, pode gerar crises de ansiedade severas.”

Na vida adulta, os desafios se voltam à independência, trabalho e relacionamentos. Muitos autistas enfrentam estigma, subemprego ou são diagnosticados tardiamente. “Eu só descobri que era autista aos 32 anos. Passei a vida achando que eu era ‘estranho’. O diagnóstico foi um alívio”, relata Paulo do Rosário, hoje ativista e consultor de acessibilidade.

Inclusão que vai além do discurso

O tratamento e o acompanhamento de uma pessoa autista devem ser personalizados. Pode incluir:

  • Psicoterapia (com foco em regulação emocional e identidade)

  • Fonoaudiologia (para desenvolvimento da linguagem)

  • Terapia ocupacional (para autonomia e integração sensorial)

  • Pedagogia especializada (no caso de crianças e jovens em idade escolar)

Além disso, é preciso investir em políticas públicas de inclusão, acessibilidade nas escolas, capacitação de professores e ampliação do acesso ao diagnóstico no SUS.

 A escuta é o primeiro passo

Compreender o autismo é mais do que entender sintomas. É aceitar outras formas de existir. “Não queremos que nosso filho seja igual aos outros. Queremos que ele seja feliz sendo quem é”, resume Juliana.

A luta da comunidade autista — e daqueles que convivem com ela — é por dignidade, visibilidade e respeito. E esse caminho começa com escuta ativa, empatia e informação de qualidade.

FONTE/CRÉDITOS: CSN - Central Sul de Notícias
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