CSN - Central Sul de Notícias
Da Redação
A crise econômica que atinge a Argentina em 2024 está afetando diretamente o turismo no Brasil. Tradicionalmente, os turistas argentinos são um dos grupos mais presentes nas praias e cidades brasileiras, especialmente no verão. No entanto, com o agravamento da inflação, a desvalorização do peso argentino e a instabilidade política no país vizinho, o fluxo de turistas argentinos para o Brasil vem diminuindo consideravelmente.
Impactos da crise econômica argentina
A Argentina enfrenta uma inflação acumulada que ultrapassa os 100%, o que tem corroído o poder de compra da população. O peso argentino sofre uma contínua desvalorização frente ao dólar e outras moedas, o que torna as viagens internacionais, como para o Brasil, muito mais caras para os argentinos. Muitos turistas, que antes aproveitavam a proximidade geográfica e o câmbio favorável, agora precisam reavaliar seus planos de férias.
"O Brasil sempre foi nosso destino favorito para passar o verão, mas agora ficou inviável. A moeda está muito fraca, e até mesmo os pacotes mais básicos ficaram caros", comenta a argentina Valeria García, que tradicionalmente passava as férias com sua família no litoral catarinense.
A dificuldade de aquisição de dólares – moeda de referência para muitas transações internacionais – também está entre os obstáculos enfrentados pelos argentinos. As restrições cambiais impostas pelo governo, conhecidas como "cepo cambiário", limitam a compra de dólares, forçando muitos argentinos a recorrer ao mercado paralelo, onde a taxa de câmbio é ainda mais desfavorável.
Reflexos no turismo brasileiro
O Brasil sempre foi um destino popular entre os argentinos, principalmente nas regiões sul e sudeste, como Santa Catarina, Rio de Janeiro e o Nordeste. Em cidades como Florianópolis, Balneário Camboriú e Búzios, os turistas argentinos representavam uma parcela significativa dos visitantes. No entanto, com a crise, esses locais estão sentindo o impacto da diminuição desse público.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), a queda no número de turistas argentinos já começou a ser sentida no final de 2023 e se intensificou em 2024. Estima-se que o fluxo de turistas argentinos tenha caído entre 20% e 30% em algumas regiões, afetando não apenas o setor hoteleiro, mas também restaurantes, lojas e agências de turismo que dependem desse público.
Empresários do setor turístico, como Marcelo Fonseca, dono de uma pousada em Florianópolis, relatam as dificuldades: "Nos últimos anos, contamos muito com os argentinos. Agora, estamos vendo nossas reservas caírem. O público nacional está tentando compensar, mas ainda não é o suficiente para preencher a lacuna deixada pelos ‘hermanos’."
Alternativas para driblar a crise
Diante desse cenário, o setor turístico brasileiro está buscando alternativas para amenizar os impactos da ausência dos turistas argentinos. Algumas agências de viagens estão criando promoções específicas para o público argentino, oferecendo facilidades de pagamento e descontos que possam compensar o câmbio desfavorável.
Além disso, muitos destinos brasileiros estão intensificando suas campanhas de marketing para atrair turistas de outros países da América Latina, como Chile e Uruguai, além de focar mais no turismo interno, que cresceu significativamente após a pandemia de COVID-19.
"Estamos tentando diversificar o público-alvo, apostando mais em turistas chilenos e brasileiros. Também estamos criando pacotes mais acessíveis para atrair quem ainda pensa em vir ao Brasil", explica Carla Menezes, gerente de uma agência de viagens em Porto Alegre.
Perspectivas para o futuro
Economistas e especialistas no setor turístico apontam que a recuperação do fluxo de turistas argentinos dependerá diretamente da estabilização econômica da Argentina. O país enfrenta uma combinação de fatores que dificultam uma recuperação rápida, como a alta inflação, o déficit fiscal e a instabilidade política.
Enquanto isso, o Brasil precisa continuar se adaptando às mudanças no perfil de seus visitantes, ampliando a oferta de pacotes mais acessíveis e buscando novos mercados.
Por outro lado, a esperança é que, com uma possível estabilização da economia argentina nos próximos anos, o fluxo de turistas volte a crescer, restaurando o cenário favorável que existia antes da crise.
No entanto, por enquanto, os "hermanos" estão mais distantes das praias brasileiras, deixando um vazio que impacta diretamente a economia do turismo, especialmente nas regiões que tradicionalmente contavam com a presença massiva desse público. O setor segue atento, tentando se reinventar em meio a um cenário de incertezas econômicas.
Comentários: