Central Sul de Notícias - Reportagem Especial
Da Redação
A incontinência urinária, condição caracterizada pela perda involuntária de urina, tem deixado de ser um tabu apenas entre idosos e passou a atingir um número crescente de homens e mulheres de todas as faixas etárias. Médicos, fisioterapeutas e urologistas alertam para uma epidemia silenciosa, impulsionada por múltiplos fatores: sedentarismo, obesidade, cirurgias ginecológicas ou prostáticas, gestação, distúrbios neurológicos, e até estresse psicológico.
Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), cerca de 10 milhões de brasileiros sofrem com algum grau de incontinência, mas menos de 30% procuram ajuda médica, muitas vezes por vergonha ou desconhecimento.
O que é incontinência urinária?
É a perda involuntária de urina. Pode ocorrer em pequenas ou grandes quantidades e de forma ocasional ou frequente. Existem vários tipos:
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De esforço: quando há perda ao tossir, espirrar, rir ou levantar peso.
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De urgência: quando há vontade súbita e incontrolável de urinar.
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Mista: combinação dos dois tipos anteriores.
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Por transbordamento: quando a bexiga não esvazia completamente.
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Funcional: quando fatores físicos ou cognitivos impedem a pessoa de ir ao banheiro.
Por que o problema está crescendo?
Os especialistas apontam cinco fatores principais para o aumento:
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Envelhecimento da população: com o aumento da expectativa de vida, cresce também a incidência de disfunções do assoalho pélvico.
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Obesidade e sedentarismo: o excesso de peso enfraquece os músculos pélvicos, que sustentam a bexiga.
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Gravidez e parto normal: são causas comuns entre mulheres jovens.
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Procedimentos cirúrgicos e radioterapia: especialmente em casos de câncer de próstata ou ginecológicos.
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Estresse e ansiedade: impactam o sistema nervoso e o controle da micção.
Atinge mais mulheres, mas cresce entre os homens
Historicamente, a incontinência é mais prevalente entre mulheres, principalmente devido à gravidez, ao parto e à menopausa. No entanto, os casos em homens estão crescendo, principalmente entre os que passaram por cirurgias de próstata ou têm doenças neurológicas como Parkinson ou esclerose múltipla.
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Em mulheres, 1 em cada 3 apresenta algum grau após os 40 anos.
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Entre os homens com mais de 60 anos, 15% a 20% relatam sintomas urinários.
Diagnóstico e tratamentos
O diagnóstico é clínico, feito com base em histórico médico, exame físico e, se necessário, exames complementares como urofluxometria, cistoscopia e ultrassom do trato urinário.
O tratamento depende da causa e do tipo de incontinência. Pode incluir:
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Fisioterapia pélvica (exercícios de Kegel)
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Medicamentos antimuscarínicos ou betagonistas
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Cirurgias (como sling ou esfíncter artificial)
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Modificações comportamentais (perda de peso, reduzir cafeína e álcool)
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Terapias minimamente invasivas, como aplicação de toxina botulínica na bexiga
Impacto na vida pessoal e profissional
A condição afeta gravemente a autoestima, a sexualidade e a vida social. Muitos evitam sair de casa por medo de “acidentes” em público. Casos graves podem levar ao isolamento e até à depressão.
"Recebo jovens de 20, 30 anos com incontinência por ansiedade ou pós-parto. Isso está se tornando comum. Precisamos falar sobre o tema sem tabus", afirma a fisioterapeuta pélvica Carla Medeiros, de São Paulo.
Prevenção é possível
Algumas medidas simples podem ajudar a prevenir ou adiar o aparecimento da incontinência:
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Evitar sobrepeso
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Praticar exercícios físicos regulares
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Fortalecer o assoalho pélvico com orientação
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Evitar segurar a urina por muito tempo
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Manter boa hidratação
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Fazer acompanhamento urológico e ginecológico regular
Precisamos quebrar o silêncio
A incontinência urinária ainda é um tabu social, o que atrasa o diagnóstico e o tratamento. Com a informação correta e acompanhamento adequado, a maioria dos casos pode ser controlada ou até curada.
Para quem convive com esse problema, a principal mensagem é: não tenha vergonha de procurar ajuda. O tratamento existe e pode devolver a liberdade e qualidade de vida.

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