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Da Redação
“Sem o oceano saudável, a gente não tem regulação climática. Ele nos ajuda a manter a Terra habitável”, afirma a bióloga e pesquisadora, Marinez Scherer, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), referência nacional em gestão costeira e oceânica. Ela é a Enviada Especial da COP30 para o tema Oceanos, que, pela primeira vez, ocupa a centralidade de uma conferência do clima das Nações Unidas, nos dias 17 e 18 de novembro, em Belém (PA).
Responsável por absorver 90% do calor e capturar um quarto do gás carbônico emitido no mundo, o oceano é, “o maior regulador climático da Terra”, segundo Scherer. Mas, essa função depende da vitalidade marinha. “É preciso ter ações de conservação, proteção e, em alguns casos, de restauração”, alerta.
Marinez lembra que a biodiversidade marinha, dos manguezais ao fitoplâncton, forma uma engrenagem essencial. “Até os organismos microscópicos têm papel importante na absorção de calor e na troca gasosa. Tudo isso mantém o planeta habitável”, sublinha.
Planejar o uso do mar
A cientista explica que o oceano é uma fronteira de ocupação em rápida expansão. “A gente olha para o mar e acha que não tem nada acontecendo, mas há uma infinidade de atividades humanas”, diz, mencionando navegação, pesca, turismo, biotecnologia e energia eólica offshore.
“Se não tivermos planejamento espacial marinho, podemos perder esse aliado tão importante contra a mudança do clima que é o oceano”, adverte. Segundo ela, o Brasil deu um passo relevante ao criar o Planejamento Espacial Marinho nacional alinhado a modelos internacionais.
Marinez ressalta que o país tem apresentado ações exemplares neste tema ao incluir programas como o ProManguezais e ProCoral em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês). Além de adicionar a faixa marítima brasileira (Amazônia Azul) no Atlas Geográfico Escolar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), colaborando para a conscientização sobre a importância estratégica e os recursos do mar brasileiro.
Um só oceano
“O mar não conhece fronteiras”, lembra a pesquisadora, ao defender a governança global para enfrentar poluição, descarte de resíduos sem controle e derramamentos de petróleo.
Ela exalta a importância do cumprimento do Tratado da Biodiversidade em Áreas Além da Jurisdição Nacional (BBNJ, na sigla em inglês), da qual o Brasil é signatário, e entrará em vigor em 2026. O documento prevê a criação de áreas marinhas protegidas, a exigência de avaliações de impacto ambiental para projetos de grande porte e a repartição dos benefícios do uso de recursos genéticos marinhos. “É um pacto internacional que faz o mundo olhar para o oceano como um todo”, explica.
De acordo com a bióloga, o Brasil pode ser referência na economia azul sustentável. “Temos uma grande floresta e um grande oceano. Os dois podem nos tornar líderes no combate à crise climática”, avalia.
A Enviada Especial afirma ainda que o oceano é o principal lembrete para a humanidade da importância do multilateralismo. “Os oceanos se conectam em termos físicos e biológicos. Por isso é tão importante todos os países se conscientizarem. Estamos todos no mesmo barco”.
Adaptação é inevitável
Scherer lembra que os efeitos da mudança do clima nos oceanos são visíveis. São exemplos disso a elevação do nível do mar e o aumento de eventos extremos, como ciclones, secas e chuvas torrenciais.
A adaptação a este novo cenário, segundo a Enviada, é um desafio inevitável. “Manguezais, recifes de coral, dunas e marismas são campeões da adaptação. Esses ecossistemas fazem o trabalho de proteção de forma gratuita. A gente só precisa não destruí-los”.
Marinez reforça que o custo de preservar é muito menor do que o de reconstruir. “Se achamos caro conservar, o preço de não fazer isso será muito mais alto e pago em vidas humanas, destruição de infraestrutura e diminuição do bem-estar humano em geral. O mar é um bem comum da humanidade, e cuidar dele é uma responsabilidade de todos”, finaliza.

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