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Às vezes, a burocracia protege; em outras, paralisa. Na Europa de hoje, o peso das regras trabalhistas do século XX arrasta consigo qualquer ambição de inovação radical. A complexidade legal para dispensar funcionários não é apenas um empecilho administrativo: ela reconfigura o mapa dos riscos empresariais, desencorajando apostas em tecnologias emergentes.
Na abordagem americana, dispensar funcionários pode ser uma operação rápida: um chamado no Zoom, pagamento de alguns meses de salário e ponto final. Na Europa, é um processo circunspecto: consulta a sindicatos, planos de compensação, pressão política, greves e, muitas vezes, anos de disputas judiciais. Enquanto isso, empresas ficam vulneráveis ou paralisadas.
Esse sistema de proteção parece humanitário. Mas o contrapeso oculto é brutal: ele impõe uma penalidade no cerne da inovação. Projetos de alto risco, essenciais para disrupção tecnológica, dependem da liquidez de pessoal. É esperado que muitos fracassem. Se demitir um grande contingente gera encargos elevados, os executivos tendem a evitar aqueles projetos que exigem mobilização e desmobilização rápida de talentos. Isso reforça a aversão ao fracasso não só no balanço, mas no planejamento estratégico.
Estimativas frequentemente citadas no debate sobre inovação sugerem que o custo médio de despedir um funcionário nos EUA seria de cerca de sete meses de salário, enquanto na Alemanha poderia equivaler a 31 meses e, na França, a 38 meses, já contabilizando acordos coletivos, requalificação e obrigações legais. Essa diferença regulatória molda decisões estratégicas: que tipo de tecnologia explorar, quantos projetos arriscar, onde crescer.
O modelo de especialização europeu acaba favorecendo inovações incrementais ou setores de média tecnologia, em vez de apostas de vanguarda que exigem reviravoltas dramáticas de equipe. Enquanto os EUA produzem dezenas de unicórnios anuais em setores de risco como IA generativa e biotecnologia, a Europa concentra-se em nichos mais estáveis ou em expansão gradual de modelos já validados.
Evidências econométricas mostram que legislação trabalhista rígida prejudica o crescimento da produtividade especialmente em setores de alta qualificação. Em países da UE, proteções trabalhistas mais fortes estão correlacionadas negativamente com crescimento da produtividade nos setores que empregam maior proporção de profissionais com ensino superior.
Alguns países europeus já tentam equilibrar proteção social e competitividade. A reforma Fornero de 2012 na Itália, por exemplo, reduziu direitos de reintegração em favor de compensações monetárias, com o objetivo de reduzir riscos para empregadores. Mas essas reformas caminham sobre terreno sensível: as proteções trabalhistas têm raízes profundas nos modelos sociais europeus e reduzi-las exige cuidado político.
O modelo americano, embora mais ágil para inovação, carrega seus próprios custos sociais: insegurança laboral, desigualdade crescente e redes de proteção frágeis. O desafio europeu não é copiar os EUA, mas encontrar um caminho próprio: manter o núcleo protetivo aos trabalhadores, seguro desemprego, requalificação, rede social, mas moderar os custos excedentes da reestruturação para empresas inovadoras.
O freio à inovação imposto por custos de demissão não é apenas um problema empresarial: é estratégico. Em áreas como inteligência artificial, biotecnologia e computação de ponta, a Europa já está atrás não só na criação, mas na escala de tecnologia. Se o continente não reformular seu regime de risco corporativo, continuará perdendo terreno, não por falta de inventores ou ideias, mas por uma arquitetura institucional que penaliza o fracasso.
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