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Da Redação
A tensão geopolítica entre Estados Unidos e China voltou a ganhar destaque após declarações do Comando Sul norte-americano sobre a presença chinesa na América Latina. Em resposta, Pequim deixou claro nesta segunda-feira (25) que não aceitará tentativas de Washington de interferir na cooperação com países latino-americanos e caribenhos.
O alerta veio depois de o almirante Alvin Holsey, chefe do Comando Sul dos EUA, afirmar que a China estaria tentando “exportar seu modelo autoritário” para o continente por meio de parcerias econômicas e diplomáticas. A resposta foi imediata: o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Guo Jiakun, rejeitou as acusações e afirmou que elas refletem “uma narrativa ultrapassada da Guerra Fria, divorciada da realidade”.
“A América Latina e o Caribe não são o quintal de ninguém”, declarou Guo, em mensagem divulgada pela agência Xinhua.
Segundo o diplomata, os Estados Unidos “não pouparam esforços ao longo dos anos para interferir e controlar a região” e agora tentam semear discórdia em meio à crescente aproximação de países latino-americanos com a China. Pequim reforçou que sua cooperação com a região tem caráter aberto, inclusivo e voltado para o desenvolvimento econômico e social, “ganhando genuína aceitação dos países e dos povos locais”.
Cooperação sem exclusividade
A China tem ampliado sua presença na América Latina com investimentos em infraestrutura, energia, telecomunicações e comércio agrícola. O Brasil é um dos principais exemplos: apenas no setor do agronegócio, Pequim é o maior comprador de soja e carne bovina brasileiras, garantindo ao país bilhões de dólares em superávit comercial.
Para o governo chinês, parcerias como essas não têm como alvo outros países, mas sim atender às necessidades mútuas. “Os países da região têm o direito de escolher independentemente seus caminhos de desenvolvimento e parceiros”, afirmou Guo Jiakun, reforçando que Pequim seguirá apostando em relações de “respeito mútuo, igualdade e benefício compartilhado”.
Reação em cadeia
A declaração também lança luz sobre o papel estratégico da América Latina no cenário global. Enquanto Washington busca manter influência política e militar no hemisfério, a China se consolida como um parceiro econômico de primeira ordem, sobretudo em áreas de comércio e financiamento.
No caso brasileiro, essa disputa é acompanhada de perto: a diversificação de parcerias fortalece a soberania nacional e cria novas oportunidades de investimento, mas também aumenta a pressão dos EUA. Ainda assim, o Brasil vem reforçando em fóruns como o BRICS e a Organização Mundial do Comércio (OMC) sua defesa de uma ordem multipolar, que rejeite a lógica de blocos exclusivos.
Um continente em disputa
Com a afirmação de que “a América Latina e o Caribe não são o quintal de ninguém”, a China envia uma mensagem clara: pretende aprofundar sua presença na região de forma legítima, sem aceitar que esse movimento seja criminalizado.
O Brasil, maior economia latino-americana e principal parceiro comercial da China na região, ocupa posição central nesse tabuleiro. Ao equilibrar relações com Washington e Pequim, Brasília reafirma que sua prioridade é o desenvolvimento nacional e regional — e não a submissão a disputas externas.
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